"Faça seu tipo único de música, cante sua própria canção especial" ("Make Your Own Kind Of Music", Mama Cass)
"Hoje é o dia em que eles vão atirar tudo de volta em você" ("Wonderwall", Oasis, música tocada por Charlie)
"Não existe viagem no tempo" (Donovan)
"Você não irá para a ilha porque quer, mas sim porque deveria" (A vendedora)
As ameaças se confirmaram: o episódio de Desmond foi mesmo demolidor - e literalmente. Pelos olhos do "Brotha", os roteiristas da série simplesmente acabam de pegar os bloquinhos de encaixar que viemos armando ao longo de três temporadas e os desmontaram lindamente. E o melhor: nós adoramos - ou pelo menos a maioria esmagadora dos fãs.
"Flashes Before Your Eyes" foi um exercício perfeito de desconstrução de idéias e reconstrução das mesmas através da confusão - algo que só "Lost" mesmo para conseguir. No caso, essa demolição mexeu com quase tudo que vínhamos elaborando a respeito da série por simplesmente alterar a nossa noção de uma única coisa: o tempo.

Peça que parece se tornar cada vez mais fundamental para a compreensão do que se passa na ilha, o tempo pregou uma peça em Desmond: aparentemente, a descarga eletromagnética o transportou para a estranha possibilidade de reviver uma realidade. Só que, vejam vocês, o que poderia ser uma bênção, tornou-se uma maldição: em vez de dar a Desmond uma nova chance, o forçou de um jeito estranho a permanecer fiel ao que já havia vivido. Voltamos ao velho baú de conceitos de "Lost" e reencontramos os conceitos de destino tão citados por Locke duas temporadas atrás.
Em uma prisão em regime aberto, pelo que vimos, Desmond viu o mesmo filme por muito tempo - e é isso que o permite perceber o que irá acontecer. Você lembrou do filme "Feitiço do Tempo"? Ou ainda, da série "Day Break". É por aí. Peraí: é?
Eu não acho não. E, claro, vou explicar.
Desmond sai da implosão da escotilha, volta ao acidente durante a pintura... e, a partir daí, seguirá por todos os eventos que culminam na implosão da escotilha. Ok. O primeiro problema que vejo nisso é: se Desmond realmente estivesse preso em uma armadilha do tempo, ele ficaria eternamente confinado entre esses dois eventos - posto que a implosão o levaria de volta ao chão de seu apartamento, coberto de tinta vermelha. Em uma comparação que me agrada, algo como uma bolinha quicando entre duas paredes: o acidente no apartamento e o giro da chave da escotilha. Não foi o que vimos.
E a minha outra idéia que me dá certeza de que Desmond não voltou no tempo é... Charlie. Ele mesmo. Se você está na rua, tocando seu violão, e um sujeito diz pra você que você estará numa ilha, com uma escotilha, com ele e com outros, e fala também que vai chover e cai o maior toró no segundo seguinte, você simplesmente vai esquecer isso? Não, certo? E Charlie simplesmente não se recorda deste momento peculiar e fenomenal.

Então, Desmond está mesmo simplesmente prevendo o futuro? Sim, mas não em seu passado. Se ele tivesse ciência do seu futuro a partir do acidente em seu apartamento, não vejo sentido em ele simplesmente se limitar a seguir as regras ditadas pela velhinha da loja de antiguidades. Qual a vantagem de se voltar ao passado antevendo o futuro se não pudermos justamente consertar o que há de errado?

O que acho é que Desmond viu o futuro - ok, chamemos assim essa habilidade do "Brotha" por um tempo - e, durante seu desmaio, teve a impressão de que essa capacidade de ver o futuro também esteve presente em seu passado. Isso faz da vendedora realmente um personagem fictício dentro da "vida real" de "Lost" cuja função (se é que existe uma) é realmente consolar Desmond de que seu destino não podia ser mudado. Claro que, muito provavelmente, ela nunca existiu no tempo "normal" da vida do "Brotha".
Enfim, se a nova visão de Desmond em relação ao seu passado foi uma alucinação, como Desmond vê o futuro afinal? É aí que vem meu palpite final sobre a habilidade dele: Desmond consegue ver o tempo. E aí, põe-se em prática as teorias de dimensões paralelas e a capacidade de uma pessoa de enxergar o que acontece na outra e tentar transformá-la. Talvez, de fato, noutra dimensão, Charlie tenha morrido eletrocutado; só que Desmond não vê que ele pode sim modificar a dimensão em que está, porque não percebe que há duas distintas e que, apenas numa delas, ele realmente não pode fazer nada.
Complexo? Por agora, sim. E pelo menos nisso sei que você pode concordar comigo. Aliás, noutra coisa também: os blocos de armar de "Lost", que estão começando a ser reordenados agora, devem ganhar novos encaixes em breve. E é esse o único destino em que consigo confiar.
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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