quinta-feira, 2 de novembro de 2006

"THE COST OF LIVING" - A AUSÊNCIA DA CULPA

"Você não quer mais vidas em sua consciência, padre" (Emeka, o traficante)
"Você é um homem mau?" (Daniel, o coroinha)
"Só Deus sabe" (Eko)
"Você jamais será um padre." (Yemi)
"Você não sabe quem eu sou" (Eko)

E um dos mais queridos - e melhores! - personagens do público de "Lost" enfim nos disse adeus. O novo e último episódio de Eko Tunde trouxe ainda mais à superfície toda a riqueza e profundidade da personalidade dividida do nigeriano - alguém que sempre caminhou na fronteira entre o bem e o mal em seu trecho mais tênue, e muitas vezes por conta de motivos espiritualmente nobres, como o da primeira imagem deste novo flashback.





A cena do roubo para alimentar o irmão nos reforçou um homem dedicado a proteger aquele que mais amou na vida: Yemi.

Para Eko, Yemi parecia ser mais do que um irmão: era seu referencial de bondade. Desde cedo, Yemi era aquele que preferia ficar com fome a roubar. Adulto, preferia ter as estátuas encalhadas na vendinha do que sendo vendidas para o transporte de drogas. E que preferiu tomar tiros no peito ao ver o irmão, apesar de toda a sua má conduta, morrer.

E vale reforçar o paradoxo: se não fosse por Yemi, Eko não teria dado vários passos na vida bandida - sobretudo o primeiro, visto no episódio "The 23rd Psalm", em que ele toma a arma das mãos do irmão, não deixando que ele atirasse numa pessoa.

Mas não precisava ser deste jeito. Tomar a arma do irmão não era a única saída para não tê-lo ao lado do crime. Roubar comida para alimentá-lo não era a forma solitária para matar sua fome. Por conta de seus erros, a confissão foi cobrada - não por Yemi, mas por algo maior.





A não-confissão de Eko, demonstrando total ausência de remorso pelos males que causou, selou o seu destino diante do monstro de fumaça - que, como vimos também em "The 23rd Psalm", já havia estado de frente com o nigeriano e, de certa forma, lido seu "histórico".





Desta vez, no novo encontro - e há dúvidas de que Yemi era na verdade o monstro? -, Eko falhou ao não pedir perdão. Errou ao mostrar sua incapacidade em conseguir se sentir mal de verdade pelos males que causou e tentou justificar seus erros. E o último paradoxo: talvez no único momento em que se despiu por completo e se revelou para valer, perdeu a vida. E não encontrou nenhum ser brilhante, como foi o caso de John Locke.





Já que falamos em confissão e julgamento, digo: no saldo de sua vida, Eko teve um fim bonito. Obviamente, não aquele em que foi severamente surrado pelo monstro, mas a comovente imagem em que aparece abraçado a seu irmão, como dois meninos que se reencontraram.

* * *

Pode fazer total sentido à história - e você sabe que eu respeito isso pra valer -, mas Eko vai fazer falta. Né?

* * *

Falta falar ainda de tanta coisa... Temos o brilhante trio Jack-Juliet-Ben (ou Fox-Elizabeth-Emerson, como queira!), esplêndido a cada episódio - e o médico se criando na "escola Dharma de manipulação", Santoro folgadão, o estranho homem de tapa-olho - que deve mesmo ser o dono do tal olho de vidro, não?

E a sensacional revelação a locke: "Vocês estão próximos".

Tudo isso e muito mais no podcast - que só vem segunda, por conta do feriadão. Mas vem bem, garanto.

E, mais uma vez: Eko Tunde, descanse em paz.

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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