"Como você sabe o meu nome?" (Alex) Porque você se parece com sua mãe" (Sayid)
"Eu queria que você não tivesse voltado por mim; mas eu voltarei aqui por você" (Jack)
"Você está aqui há 80 dias, e eu estive aqui minha vida inteira; então, por que acha que conhece esse lugar mais do que eu?" (Ben) "Porque você está na cadeira de rodas, e eu não" (Locke)
"Meu pai manipula pessoas, e é isso o que ele faz. Ele faz parecer que as idéias são suas, quando na verdade são dele" (Alex)
"John, doeu?" (Ben)

Até que ponto uma pessoa é capaz de sacrificar não apenas valores como também a própria vida e a de seus companheiros em prol de algo mais especial? Este novo episódio de "Lost" nos convidou novamente a pensar sobre isso, sob a ótica de três personagens: Jack, Rousseau e, claro, Locke.
Jack nunca foi de se entregar - ao menos o Jack que conhecemos nas duas temporadas anteriores e em boa parte desta também. Sua teimosia foi responsável por momentos heróicos como o salvamento de Charlie e outros embaraçosos como a luta vã para salvar Boone, que culminou com o pedido de arrego do irmão postiço de Shannon.

No fim de "Par Avion", todos ficamos embasbacados ao ver a suposta traição de Jack. O homem que um dia pensou em um exército contra os Outros, agora abandonara sua teimosia em lutar pelos sobreviventes para se entregar a eles. Ao lado de seus ex-inimigos em "The Man From Tallahassee", manso, passivo, ele disse a Kate e a todos nós que planeja descobrir um jeito de sair para enfim voltar e resgatar os seus. Ou seja: Jack estaria abrindo mão temporariamente de sua vontade própria para um bem maior.
Kate quer acreditar em Jack. Eu quero acreditar em Jack. Mas os sorrisos ao lado de Juliet, o jogo de bola com Tom, a conversa de que "as crianças estão bem" não me deixam. Há algo errado com aquele líder que conhecemos. Talvez haja dentro de Jack a intenção de salvar; mas ela parece estar sufocada em um manto de mudança e simpatia pela causa dos Outros.

E Danielle Rousseau? Se confiarmos em tudo que a francesa disse até agora a respeito do rapto de Alex, o momento tinha tudo para ser feliz, pois ela nunca esteve tão perto de tê-la de volta. Aliás, ela quase esteve frente a frente com a garota - e nada fez. Antes, prestes a invadir a vila dos Outros, agiu da mesma forma. Há tempos sustento a idéia de que ela sabe mais do que diz, até mesmo com uma pontinha de dúvidas sobre suas intenções. Mas as lágrimas de Rousseau apagaram de mim qualquer má fé sua.
Continuo acreditando que ela foi vítima de alguma lavagem cerebral séria - e , depois da revelação dos produtores Damon Lindelof e Carlton Cuse de que os Outros não são da Dharma, creio até em que Rousseau seja única remanescente da Iniciativa de Alvar Hanso. E ao vê-la chorando, incapaz de falar com Alex tendo sua filha a poucos metros de distância, percebo uma nobre doação materna de quem se convence a aceitar que a filha está bem, abrindo mão de se revelar a ela pelo medo de causar uma reviravolta em sua vida - e isso sem saber que Sayid já fez Alex dar este primeiro passo.
E, finalmente, Locke. Um homem que sofreu muito em sua tentativa de ser feliz, de se encontrar, e que encontrou a tristeza até quando quis ajudar os outros. Não há mesmo quaisquer razões para que ele tente procurar em uma vida fora da ilha a paz e a felicidade que encontrou nela.

Locke é um homem que, agora, não quer mais cometer sacrifícios pelos outros. Pensa em si mesmo porque se sente castigado demais. Ainda dói muito, como Ben mesmo sabe. Aliás, saber demais dos sobreviventes é a causa do fascínio de Ben por Locke e seu sentimento de plenitude com a ilha. E a vontade de ter respostas grandiosas e contundentes sobre a natureza desta tal "comunhão" pode levar o careca a querer viver uma nova realidade ao lado dos ex-inimigos - e ter como espécie de prova de fogo o confronto com seu velho e maior pesadelo: Anthony Cooper
A grande verdade é que Jack, Rousseau e Locke podem estar cansados de suas velhas convicções. Os baques são fortes demais - ver Kate ao lado de Sawyer, perceber Alex como uma perfeita estranha à mãe verdadeira e ter a sensação constante de que o mundo o rejeita. Solitários, os três precisam abraçar novas realidades. E, num primeiro momento, tudo o que precisam é se acostumar com elas.
Hoje, Jack, Rousseau e Locke são coitados, perdidos entre suas desgastadas e machucadas crenças, fartos da companhia de velhos fantasmas e diante de novos e estranhos horizontes. O que resta a eles afinal? Não sabem, e muito menos nós. A diferença entre os três? Enquanto Rousseau parece achar ser tarde demais, Locke pode começar a acreditar que sua hora pode ser agora; e Jack, alguém perdido entre estes dois panoramas.
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Amanhã, os detalhes, análises e mais comentários sobre "The Man From Tallahassee" no podcast. Ouça!
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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