"Eu não fiz perguntas sobre minha filha porque não quero saber as respostas" (Rousseau)
"Por que você está aqui realmente? Você está por Jack?" (Sayid a Locke)
"Existe esperança e culpa, e acredite: eu sei a diferença" (Christian Shephard)
"Por favor, não desistam de nós" (Claire, no bilhete-pedido de salvamento)

Depois de ver o novo episódio de Claire, fica pra mim a certeza de que caíram os últimos que ainda sustentavam que "Lost" andava perdida. Usando outro trocadilho, "Par Avion" representa a decolagem plena desta terceira temporada em um episódio que, excetuando o humor, reforçou todos os demais elementos que fazem a série ser sensacional.

Houve tensão - e o tempo todo - na expedição rumo à vila dos Outros e suas sementes de desconfiança. Kate não entende Rousseau - e como entender? -; Sayid não se entende com Locke - e por bons motivos, devo dizer; e todos, com exceção de Bakunin, entenderam a grandiosidade do que estavam prestes a enfrentar ao se depararem com os pilares que formam a tal "invisível cerca sônica", e com o incrível fim do ucraniano. Incrível e lamentável, pois com ele certamente foram várias respostas...

Houve esperança, e em dose dupla. Primeiro, na idéia bonita de Claire em usar as gaivotas como pombos-correios de seu pedido de socorro (que definiu de forma simples e eficiente a situação em que os sobreviventes se encontram), inspirando o nome "Par Avion", expressão usada nos serviços postais para designar o transporte de correspondências internacionais; e no carinho da australiana em se solidarizar à Charlie na luta contra o trágico destino para o inglês que Desmond insiste em enxergar.

Houve revelações, no retrato de um instante especialmente ruim do passado de Claire, em que o claro adeus da mãe Carol (e todas suas culpas sobre ela) contrastou com a descoberta de outra perda, a de uma vida inteira, chamada Christian Shephard - um homem infeliz que nunca conseguiu criar maiores laços com seus filhos.
Houve mistério. O que dois irmãos por parte de pai faziam no mesmo - e fatídico - avião? Como não acreditar que o vôo 815 estava predestinado a cair naquele lugar, e tendo aqueles passageiros?
E, sobretudo, houve reviravolta, presente em um Jack, feliz, inocente, brincando de bola, e atormentando a visão do quarteto desbravador - e com uma mensagem que particularmente me apontou um sentido curioso: quando pensava que o episódio acabaria com Claire soltando a gaivota, veio a verdadeira e perturbadora cena final; e com ela, a surpresa e a mudança de comportamento deixando a fé em segundo plano.
Desconfiança, traição, medo, egoísmo; e também, esperança, fé e o velho clássico de acaso x destino. "Lost" está perdida?

Não. Vamos abrir os olhos: perdidos estamos nós - e da melhor forma possível.
* * *
Amanhã, o podcast com todos os demais aspectos de "Par Avion". Venha, ouça, comente!
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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