sexta-feira, 18 de maio de 2007

"GREATEST HITS" - SER NOBRE É SER HERÓI

(Com SPOILERS! para quem não viu o 21º episódio da terceira temporada)


"Ele é meu pai?" (Alex)
"Lá vamos nós outra vez" (Jack)
"Uma vez que eu me for, não se preocupe comigo" (Charlie a Claire)
"Ambos sabemos que você não foi enviado para ocupar meu lugar, irmão" (Charlie a Desmond)
"Eu me acerto contigo depois. Só lembre que eu te amo, cara" (Charlie a Hurley)
"Todos sabem que eu sou uma bagunça, Charlie, mas você é diferente. Vai se casar, ter uma família, um bebê (...). O anel precisa continuar na família." (Liam)




Cara Claire,

Antes de tudo, torço para que (mais) esta garrafa que contém essa mensagem chegue até você. Aliás, se de fato está lendo o que escrevo, é sinal de que isso aconteceu. Bom saber que, fora da ilha, alguns desejos aparentemente impossíveis também podem ser realizados.

Te escrevo porque, não me pergunte como, sei de sua trajetória - e, conseqüentemente, da apreensão do seu grupo pelos momentos complicados que parecem estar a caminho. E como se já não bastasse a expectativa em torno do que acontecerá quando os inimigos chegarem, sei que algo em você te diz que o seu querido Charlie pode não estar ao seu lado em um instante tão importante em que você e seu filho mais precisam dele.

É verdade, você está certa: há perigo na missão de Charlie; e se ele não te negou isso, também não te soou muito sincero, sequer convicto, o "te vejo em breve" dito por ele antes de partir. Claro que isso te deixou chateada - e, talvez a possibilidade de não tê-lo contigo esteja te irritando e te deixando confusa: afinal, se você e Aaron são tão importantes para ele, por que ele haveria de abandoná-los justo agora?

Não o subestime assim. Um dos sobreviventes do vôo 815 que mais se transformaram para melhor desde que o fatídico acidente os prendeu aí nessa ilha foi justamente Charlie. O homem que te ofereceu dois cobertores na primeira noite após a queda do avião já era gentil, mas também bastante atormentado. Motivos? Um breve gosto do sucesso que lhe fora retirado por relacionamento com as drogas - que, sobretudo, afetaram o irmão dele, Liam. Aliás, ele já te falou sobre ele? Creio que não.

A viagem para a Austrália foi estranha para Charlie, pois lá ele viu a chance de ver sua banda voltar ser demolida por um argumento praticamente inapelável: Liam, feliz, recuperado, e se dedicando à filhinha, Megan. Resultado: Charlie rumou para Sydney cheio de esperanças e lá teve que deixá-las antes de embarcar de volta. A melhor conexão dele com seus sonhos se encontrava dentro do tênis - e ela era justamente o que mais tarde ele encontrou dentro de uma santa. Ironia-mor: ele, que sempre foi alguém dividido entre as glórias divinas e as materiais, entre a chance de ser um servo de Deus ou ser um deus dos palcos, viu essa dúvida materializada em uma estátua da Virgem Maria cheia de heroína.

Claire, você descobriu essa verdade da pior forma possível. Você duvidou de Charlie. A ilha duvidou de Charlie. Charlie duvidou de Charlie. Longe de você, talvez ele agora esteja refletindo sobre o quão foi difícil refazer o caminho da conquista da sua confiança - e, se comparar, tenho certeza de que ele vai achar aquela situação bem mais difícil do que a missão que aceitou. Não vou negar que Charlie andou tropeçando até conseguir estar limpo e íntegro diante de si - aliás, quem não tropeça? - , mas o que importa é que chegou lá. E te digo: você e seu filho são as principais razões dessa difícil, tortuosa porém alcançada redenção.





Talvez um pouco inspirado na paz e felicidade que Liam e sua nova vida transmitiram a ele em Sydney, Charlie encontrou em você e em Aaron a alegria que buscava. E acredite: ele não arriscaria esse sentimento tão especial em uma missão se ela realmente não fosse importante e de conseqüências benéficas para você, para Aaron e para os demais sobreviventes do acidente - e não estarei te dizendo nenhuma novidade, tenho certeza, ao considerar que a tarefa pode realmente não ter conseqüências boas para ele.

Você crê em destino, Claire? Charlie sempre pareceu acreditar, só que crer nele não significa necessariamente aceitá-lo; e ele negou bastante o que parece ser o dele até ver a chance de salvar você e seu filho - sim, especialmente vocês. A partir daí, uma vez ciente disso, ele abraçou sem medo o que parece ser essa tal sina, sem questioná-la. Não vou te dizer que ele não tema a missão; mas afirmo também que o medo enobrece ainda mais o desprendimento de quem o encara em prol de algo maior.

Eu não posso te dizer o que irá acontecer com Charlie. Eu sequer sei se ele conseguirá cumprir sua tarefa, e se ela vai mesmo ser tão decisiva num possível resgate de vocês. Sabendo ou não, uma certeza é sólida desde já: Charlie é um herói. Não só pelo feito, mas principalmente pela escolha de se arriscar pelo que realmente ama. Todos os que optam por esse caminho já são gloriosos, independentemente do acerto ou do erro, do êxito ou da falha.

Por isso, te digo nesse momento de agonia: Charlie vai ficar bem, uma vez que ele se encontra em um patamar jamais vislumbrado por ele, e jamais vislumbrável pelos que viam aquele sujeito fraco que embarcou na Austrália. Hoje, Charlie é alguém melhor do qual você pode se orgulhar desde já.





E um último conselho: em vez da preocupação com ele, agarre-se à nobreza de sua disposição. É com ela que você deve ficar; e, através dela, interpretar o presente que agora repousa no berço de Aaron. E, com meu beijo e votos de sorte sempre, deixo enfim os parabéns a você e ao seu filho por terem ajudado um homem a entender que, por mais trágico que pareça ser seu fim, se nele houver amor e se for em nome de um bem maior, Claire, tenha a certeza: isso bastará para que ele possa se sentir honrado para sempre.




* * *

Excepcionalmente, o podcast deve vir na segunda-feira - com os comentários mais, digamos, tradicionais. Reitero o pedido feito no post anterior: por favor, só voltem a enviar seus e-mails a partir da próxima terça. Namastê!

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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