Há um tempo atrás, eu prometi que voltaria a falar do obscuro livro, de autoria de um certo Willis George Emerson, que provavelmente influenciou (e influencia) Lost, sobretudo no que diz respeito à teoria defendida por mim de que a ilha se localiza dentro do planeta Terra - a combalida Teoria da Terra Oca. Então, chegou a hora!
(Para quem ainda está boiando no assunto, recomendo clicar na parte laranja e em negrito da frase que abre o parágrafo anterior. E mandar bala e, depois, voltar!)
Para mim é muito claro: "The Smoky God" - traduzindo, "O Deus Enfumaçado" - de fato pode ter sido uma obra que inspira os criadores e roteiristas de nossa série favorita. E para provar isso, vou traduzir trechos de cada capítulo e associá-los à série.
INTRODUÇÃO
Já nesta primeira parte do livro, uma interessante questão levantada pelo autor: "Mais de cem vezes já me perguntei se é possível que a geografia mundial esteja incompleta". Essa dúvida me remete diretamente a uma cena do episódio final da terceira temporada, em que um abalado Jack aparece cercado de Atlas com mapas assinalados, sem saber ao certo onde procurar a ilha...

Mais adiante, ao cogitar uma possibilidade, o autor Willis George Emerson cita um nome familiar aos fãs da série: "Pode ser que o verdadeiro lar de Apollo não tenha sido em Delfos, mas neste antigo centro da Terra sobre o qual Platão diz: 'O verdadeiro lar de Apollo é entre os hiperboreanos, em uma terra de vida perpétua, em que a mitologia nos fala de duas pombas voando em dois lados opostos do mundo se encontram nessa região. De fato, de acordo com Hecateus, Leto, a mãe de Apollo, nasceu numa ilha no Oceano Ártico, além do vento nórdico".
Apollo. O chocolate. O único produto da despensa da escotilha Cisne que não era Dharma. Por que a famosa barrinha leva o nome do deus da mitologia grega, afinal...? A inspiração pode ter partido daí...

Por que assinalei a tal "vida perpétua"? Simples: por conta de Richard Alpert. Pelo que vimos em "The Man Behind The Curtain", ele pouco envelheceu desde que conheceu Benjamin Linus ainda garoto. Não é estranho? Claro que não estou querendo dizer que Alpert é imortal; mas sem dúvida, fisicamente falando, é evidente que a passagem do tempo para ele é diferente...
E Leto nasceu numa ilha, certo? Curioso...
Ainda nesta introdução há a explicação para a fonte que ilumina o pedaço de terra do interior de nosso planeta como um sol - e talvez essa também seja a explicação para um sol na ilha de Lost, uma vez que ela se encontre dentro do nosso planeta.
Olhem só: "A distância de dentro da Terra até sua superfície é cerca de seiscentas milhas menor do que o reconhecido diâmetro do planeta. No meio do caminho há um centro elétrico - uma gigantesca bola de fogo vermelho - que não é naturamente brilhante, mas cercado de uma nuvem branca e luminosa, dando calor uniforme(...). Esta nuvem elétrica é conhecida pelas pessoas 'de dentro' como o lar do 'Deus Enfumaçado'".
Ok, enfim temos uma referência ao tal "Deus Enfumaçado" que dá nome ao livro. Não há como deixar de lembrar do nosso velho conhecido monstro de fumaça. Identificado pelos produtores executivos e roteiristas Damon Lindelof e Carlton Cuse como um dos maiores mistérios da série, o monstro de Lost só terá sua essência revelada no fim da série, segundo a dupla.
Acho perfeitamente possível que o monstro de fumaça tenha alguma inspiração neste estranho ser descrito por Jensen. Vocês não?
SEGUNDA PARTE: A HISTÓRIA DE OLAF JENSEN
Como vocês já devem saber, Jansen é o protagonista da história do livro que conta a aventura vivida por ele e por seu pai navegador. Em um trecho deste capítulo, ele descreve sobre como seu barco encarava uma tempestade de neve em meio aos icebergs do Ártico:
"Por qual milagre nós escapamos de sermos destruídos, eu não sei. Me lembro de nosso barco ter se retorcido como se suas juntas estivessem quebrando..."

Esse trecho me lembrou de certa forma a aventura de Desmond a bordo de seu barco Elizabeth, antes de chegar à ilha...
Noutra parte, vemos a descrição de um céu de cor púrpura vislumbrado por Olaf e seu pai enquanto chegavam ao interior da Terra - exatamente a mesma coloração vista quando Desmond girou a chave do dispositivo da escotilha Cisne:
"À nossa direita, os raios iluminando os prismas de icebergs eram lindos. Seus reflexos emitiam feixes de garnet, de diamante, de safira. Um panorama pirotécnico de cores e formas incontáveis, enquanto abaixo podíamos ver o mar verde, e acima, o céu púrpura". Associação mais direta, impossível... Não?

É neste pedaço do livro que Emerson também revela o país de origem de Olaf Jensen: a Noruega. E é num prédio da cidade norueguesa de Narwik que Alvar Hanso, criador da Hanso Foundation e da Dharma Initiative, aparece no filme de Orientação da escotilha Cisne.
TERCEIRA PARTE: ALÉM DO VENTO NÓRDICO
Neste capítulo, Jensen e seu pai chegam ao tal pedaço de terra dentro do planeta. Leiam o que ele diz sobre a bússola de sua embarcação: "sua agulha se moveu, e parecia instável como um bêbado, mas finalmente apontou uma direção (...) Se nós pudéssemos confiar nela, estávamos navegando em uma direção entre norte e nordeste. Nosso rumo, entretanto, sempre foi ao norte".

Portanto, dentro da Terra - como esperado - a bússola não é confiável. Na ilha de Lost também não: logo no 13º episódio da série, "Hearts and Minds", vemos Sayid questionando junto a Jack a precisão do aparelho naquele local - a primeira evidência de uma anomalia geomagnética na série.
Em determinado momento, após navegarem horas a fio, passando pelos icebergs do Ártico - e pensando em frio, alguém lembrou da base gélida dos portugueses do fim da segunda temporada? - , finalmente eles avistaram uma terra nada gelada: "A costa se estendia muito além à nossa direita, tão longe quanto os olhos pudessem ver, e por toda a praia arenosa havia ondas quebrando em espuma (...) A superfície da terra era coberta com árvores e vegetação". A descrição é perfeitamente compatível com a de uma ilha como a de Lost, certo?
Não demorou muito para que a dupla de pai e filho fosse abordada por um outro navio... repleto de homens muito, muito altos. "Não havia um só homem que não medisse mais de doze pés de altura". De forma alguma eu penso que os nativos da ilha de Lost sejam gigantes; mas os grandalhões encontrados pelos Jensen podem ter levemente inspirado a criação da estátua do pé de quatro dedos - intimamente ligada à história da ilha, bom lembrar.
Veio a noite, e surgiu a lua na Terra oca - quer dizer, algo bem parecido com ela, segundo Olaf Jensen: "(...)Nós perdemos os raios solares de vista, mas percebemos que a radiação emanada da bola de fogo vermelha que havia chamado nossa atenção agora nos dava uma luz branca (...), proporcionando uma grande luz. Devo dizer, mais intensa do que a de duas luas na noite mais clara.
Era como se a nuvem de claridade original tivesse eclipsado, e as doze horas seguintes corresponderam com a nossa noite. Logo descobrimos que estas pessoas estranhas eram adoradores desta grande nuvem noturna. Era o "Deus enfumaçado do 'Mundo interior'"
Outra explicação dada adiante por Jensen também vale a pena ser reproduzida: "O deus enfumaçado, com cada revolução da Terra, parece surgir no leste e se pôr no oeste, assim como faz o nosso sol na superfície externa".
Seria possível ver um ser análogo a esse deus reproduzindo sol e lua na ilha de Lost? Talvez o próprio monstro de fumaça, ou a energia que o cria? Por mais viajante que possa ser essa idéia - e é! -, creio que não deve ser descartada. De novo, lembro: Lost é uma obra de ficção; e não necessariamente tem algum compromisso com a ciência da vida real... Certo?
Outra particularidade interessante acerca dos habitantes originais do interior da terra descoberta em "The Smoky God": "Descobri que a língua do povo do 'mundo interior' é bastante parecida com o sânscrito". Nisso, pensamos em... Dharma - outra palavra oriunda do sânscrito.
É também neste capítulo que Olaf Jensen fala que os habitantes originais daquela terra os levam à cidade mais importante para eles. Batizada de Éden, nela há uma fonte que se divide em quatro rios: "Este lugar é chamado pelos locais de 'umbigo da Terra', ou o começo, 'o berço da raça humana'. Os nomes dos rios: Eufrates, Pison, Gion e Tigre", conta Jensen.
Segundo a Bíblia, o Jardim do Éden se localizaria entre estes quatro rios - e esse trecho de "The Smoky God" que me inspirou a remota possibilidade - veja bem, REMOTA POSSIBILIDADE - de a ilha ser o Paraíso bíblico, conforme pus no primeiro post que falei do livro.
QUARTA PARTE: NO MUNDO SUBTERRÂNEO
Neste capítulo do livro, Olaf Jensen e seu pai decidem retornar ao mundo exterior, mas não sem antes pesquisar e admirar espécimes bem exóticas da fauna e flora do interior do planeta. Ao falar dos bichos, Jensen expressa uma admiração especial pelas aves... Vejam só: "Seja nas montanhas ou na costa, a variedade de aves é enorme. (...) Há um grande número de espécies, e de diferentes cores".

Dois pássaros "estranhos" já foram vistos em Lost. Foi nos episódios finais da primeira e segunda temporadas, e sempre associados a Hurley... Outra inspiração de "The Smoky God"?
QUINTA PARTE: ENTRE AS BARREIRAS DE GELO
A volta da dupla de navegadores não poderia ser mais trágica: um iceberg desmoronou, provocando o naufrágio do barco, juntamente com o pai de Olaf Jensen - que acabou sobrevivendo, ao parar em uma geleira.
Curioso: pai e filho acabam separados em sua aventura marítima. Não dá para pensar em Michael e Walt?
Resgatado por um barco pesqueiro, Jensen foi considerado insano ao relatar sua história fantástica. Ao retornar ao seu lar, ele acabou internado em um manicômio. Quando finalmente conseguiu sair, voltou a ser pescador e, mais tarde, foi morar nos Estados Unidos - mais precisamente em... Los Angeles, destino original do fatídico vôo 815.
SEXTA PARTE: CONCLUSÃO
O mais interessante trecho desta penúltima parte do livro - a última é apenas um posfácio de Emerson - é quando Jensen fala de dois amigos que, segundo ele, devem ter rumado para o "mundo interior". Como? A la (verdadeiro) Henry Gale: "Strindberg e Fraenckell, que voaram no balão 'Oreon' da costa noroeste de Spitsbergen naquela tarde do domingo de 11 de Julho de 1897, estão lá", afirma.
* * *
Aí está. De fato, acredito que os criadores de Lost possam ter usado "The Smoky God" como base para muitas de suas idéias. E num dos podcasts oficiais desta terceira temporada, Damon Lindelof e Carlton Cuse de certa forma me incentivaram a acreditar ainda mais na possibilidade de uma Terra Oca na série, quando garantiram que o ramo da pseudociência tem muito a ver com a trama de Jack, Locke e companhia.
Acreditam? Duvidam? Os comentários são todos de vocês - e para ler "The Smoky God" na íntegra basta clicar aqui.
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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