Você já ouviu falar em telecinésia? Segundo a Wikipedia, telecinésia é a "alegada capacidade de mover um objeto com a força da mente". Esse era o poder de uma das personagens mais espetaculares da literatura de terror: Carrie, do romance homônimo de Stephen King; e também um dos dons de um conhecido nosso da ilha: Walt.

A Carrie do filme inspirado no livro e Walt: profundas semelhanças
Antes de falar do filho de Michael - que, obviamente, era o prisioneiro da sala 23 no último mobisódio -, me atenho um pouquinho mais a Carrie. Sua história: feia, humilhada pelos colegas de colégio, criada longe do pai e de mãe fanática religiosa, ela é uma adolescente que descobre que tem o dom de mover as coisas com o poder do pensamento; e acaba dando uma demonstração extrema de seu dom quando passa por uma situação de total estresse.
Walt. Um garoto sem endereço fixo, cuja mãe vive se mudando - e, por conta disso, provavelmente sem amigos, tendo um cachorro como companhia. Criado longe do pai... e com o dom de atrair animais com a força do pensamento/desejo. Primeiro, um pássaro, no episódio "Special" (14º episódio, primeira temporada); depois, já na ilha, ursos polares; e, em "Room 23", um bando de pássaros que aparecem mortos debaixo de sua janela. E nestas três ocorrências, o garoto estava enfrentando situações de estresse.

Juliet com um exemplar de "Carrie" nas mãos
Uma vez descritos os perfis e dons de Walt e Carrie,a comparação entre os dois é inevitável; e torna-se ainda mais óbvia quando lembramos de que "Carrie" era o livro lido por Juliet (e debatido em seu Clube do Livro) no episódio inicial da terceira temporada. Quem lê o blog sabe que não é a primeira vez em que falo da veneração dos produtores e roteiristas de "Lost" por Stephen King, admiração que é recíproca.
Walt é praticamente uma Carrie; e seu dom era perigoso demais para os Outros. "Todos estão assustados. Tom nem dá mais comida a ele", comentou Juliet a Ben, ao som de um alarme. Walt amedrontava, assim como Jacob apavora - aliás, segundo o líder dos Outros, Jacob solicitou a presença do menino especial.
E aí chegamos a uma pertinente pergunta que já chegou algumas vezes até minha caixa de e-mails: "Se Walt é tão poderoso, por que os Outros se livraram dele?". A resposta vai além do pânico dos Outros em encarar o menino: ela está também no medo de Ben de que seu lugar junto a Jacob fosse tomado.
Nesta terceira temporada, vimos isso mais claramente em relação a Locke; mas certamente esse temor também foi voltado para Walt, a partir do momento em que Ben viu a pilha de pássaros mortos. Aliás, muito provavelmente Jacob jamais tenha pedido o rapto do garoto, mas apenas tenha apontado a Benjamin os dons do moleque. "Essa é sua responsabilidade. Você é que o quis aqui", disse a sempre perspicaz Juliet ao líder dos Outros.
Num primeiro momento, Ben certamente quis conhecer de perto o que o garoto tinha a oferecer, saber o motivo de ele estar nas graças de Jacob, e tentar reverter seus dons a favor de si próprio, através de uma lavagem cerebral na sala 23; mas, uma vez em que viu os atributos do menino - e que ele conseguia bloquear qualquer tentativa de lobotomização -, prudentemente preferiu vê-lo longe dali. Preferiu vê-lo longe da ilha.
É isso: Walt não foi solto por assustar os Outros, mas sim por apavorar Ben e seu desejo de se manter como único representante do poder da ilha junto a seu grupo.
Enfim, "Room 23" nos confirmou os poderes de Walt mas, sobretudo, nos apresentou o medo que os Outros tinham dele - temor que depois foi também o de Benjamin Linus. Diante dessa incrível constatação do potencial do garoto - e, repito, esta curiosa espécie de telecinésia é apenas um de seus dons - , resta saber como será o seu retorno à ilha.
Melhor dizendo: como será sua volta definitiva ao local. Em "Through the Looking Glass", ele pode ter sido a salvação de Locke e, através dele, tentou ser a da ilha, induzindo o caçador a impedir o contato com a equipe da pára-quedista. E anote: diante das ameaças da quarta temporada, talvez seja ele o maior trunfo da batalha que deve vir por aí.
E, antes de fechar o assunto, a recomendação: leia "Carrie", veja "Carrie, a estranha" - o ótimo filme de Brian De Palma - e entenda um pouco mais deste estranho e especial mistério de "Lost" chamado Walt.
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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