"Este é o barco de Charles Widmore?" (Desmond)
"Prazer em conhecê-lo, Kevin" (Sayid)
"Sabe o que é carma? Você faz escolhas ruins, e coisas ruins acontecem" (Bernard)
"Antes de chegar à ilha, neguei meus sentimentos; e sei que, seja lá o que você tiver feito, você fez para aquele homem. As ações dele causaram isso. Eu te perdôo" (Jin)

Uma das coisas que fazem de "Lost" ser tão espetacular é que, mesmo passados três temporadas completas e sete episódios, sua história continua nos surpreendendo positivamente, tanto em sua trama quanto na maneira de contá-la. "Ji Yeon" foi um belo exemplo disso, desenvolvendo simultaneamente três narrativas em tempos diferentes - todas encadeadas entre si, amarrando ainda mais a história do casal Jin e Sun, sobretudo em relação ao seu futuro.
A trajetória dos dois coreanos nos reafirmou que algo bem semelhante ao casamento entre história e narrativa acontece no tratamento dispensado a um dos temas preferidos da série: a redenção. Aliás, diga-se, não que Jin não a tivesse vislumbrado pela primeira vez em "Ji Yeon": já na primeira parte do fim da temporada inicial, ele já havia falado a Sun que estava sendo castigado pelo mal que havia feito a ela.
O que mais me chama a atenção na história dos dois fica bem claro em "Ji Yeon": se para a maioria dos sobreviventes o caminho para o nobre ato de se redimir parece começar na tão falada nova vida que cada um ganhou ao chegar à ilha, com Jin e Sun não funciona assim: sua vitória consiste não na transformação em pessoas novas, mas sim no retorno às que já foram um dia.
No passado visto em "Ji Yeon", tivemos a recordação de um Jin que há tempos não visitávamos: o homem que, em nome de um amor, paradoxalmente se sujeitou a se distanciar de si - e, conseqüentemente, do verdadeiro homem pelo qual Sun se apaixonou. No momento de "Ji Yeon", claro, ele ainda estava no início de sua transformação.

Na ilha, na verdade desenterrada por Juliet, vimos Jins e Suns se entreolhando, até que o coreano foi reencontrar a esposa, num ato que claramente antecipou sua intenção de aceitar assumir a criança, seja de quem fosse. E, imediatamente, a associo ao choro emocionado de Sun diante de Juliet na escotilha médica, dizendo que, na verdade, a doutora havia lhe dado boas notícias sobre a paternidade do bebê, mesmo diante da morte iminente.
Impossível não considerar esses dois gestos de desprendimento absoluto e amor extremado como provas de que, assim como acontece conosco no "mundo exterior", na saga dos sobreviventes, às vezes os sentimentos mais bonitos precisam de atalhos complicados e improváveis para verem a luz.

Por isso mesmo, afirmo, o choro de Sun diante do túmulo de Jin não foi um final necessariamente triste; aliás, sequer foi final, mas sim o sublime epílogo de uma história a dois que, em "Ji Yeon", foi abrilhantada pelas surpresas de um roteiro magistral, demonstrando que ,em "Lost", forma e conteúdo são especialmente inseparáveis.
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Hurley, Regina, Desmond, Sayid, Gault, Widmore e... Kevin Johnson, claro! Todos convocados para o podcast #59, chegando por aqui na segunda-feira. Namastê!
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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