sábado, 31 de maio de 2008

"THERE'S NO PLACE LIKE HOME (PARTES 2 E 3)" - OLHAR ATRÁS PARA SEGUIR ADIANTE

(Com SPOILERS! para quem não viu o episódio final da quarta temporada)


"Bem-vindo ao lar" (Richard Alpert)
"Você pode ir agora, Michael" (Christian Shephard)
"Temos interesses em comum. Quando quiser conversar sobre eles, me ligue. Como sabemos, não fomos os únicos a sair daquela ilha" (Sun)
"Paranóia me mantém vivo" (Sayid)
"Não ouse levá-lo de volta à ilha (Claire)
"Não é uma ilha. É um lugar onde milagres acontecem" (Locke)
"Não existem milagres" (Jack)
"Então veremos qual de nós está certo" (Locke)


"Minta para eles, Jack. Se você mentir metade do que mente para si próprio, eles irão acreditar" (Locke)





Antes da estréia deste quarto ano de "Lost", uma das coisas que sabíamos é que o lema da nova temporada seria: "Defenda a ilha". O que não desconfiávamos na ocasião é que esta exigência se confundiria tanto e de uma forma tão peculiar com a antiga ordem na série, vigente desde seu primeiro episódio: a da busca por um resgate.

Em "There's No Place Like Home (partes 2 e 3)", entendemos que, uma vez na ilha, estes dois objetivos, aparentemente distintos, na verdade se tornaram um só para os sobreviventes do vôo 815. E, uma vez que ambos são de natureza heróica, nada mais natural que o episódio que redefine decisivamente o conceito de "salvação" para os que buscam superar a ilha fosse marcado pelo ato mais desapegado de um herói: a disposição ao sacrifício.

Sawyer, Michael, Jin... John Locke e até mesmo Benjamin Linus abriram mão da ilha para salvá-la. No entanto, dentre todos os heróis, o principal destes dois terços finais de "There's No Place Like Home" não é nenhum deles. Este foi um episódio sobre Jack Shephard. Arriscaria mais: sob diversos aspectos, esta foi uma temporada centrada em Jack Shephard.





O que não foi este quarto ano da série senão um imenso e explicativo aposto para nos retratar a via crucis assumida e trilhada por Jack? Se imperou a boa intenção em cada gesto do doutor, ela estava mal acompanhada de um cego abraço na lógica, adotando-a como única referência em um local em que milagres se sobrepõem diante dos olhos de quem se dispõe a enxergar. O resultado da escolha errada de Jack: desgraças e pesadelos coletivos e individuais, frutos diretos e indiretos da incapacidade do médico em perceber que, focado no objetivo de sua promessa de resgatar os companheiros, ele deveria na verdade apenas ter deixado de mentir para si mesmo.





"Lost" é uma saudação aos heróis clássicos. Aqueles que não apenas envelhecem como também experimentam dúvidas, pesadelos, hesitações e fracassos - todos, elementos necessários para que se acerte o prumo e se faça as pazes com o destino. Não é à toa que outro herói, John Locke, surgiu na quarta temporada nada certo de seu rumo, mas em seu episódio final ouviu de Ben o saldo de seu caminho tortuoso: "Você sempre encontra seu caminho, John". Uma frase que, de certa forma, o próprio Locke tentou em dois momentos, em duas épocas - presente e futuro - dizer a Jack, mas só foi verdadeiramente ouvido em sua segunda oportunidade.

Na funerária, incrédulo, transtornado diante do corpo morto de Locke, Jack enumerou a Ben adversidades que encontrará na imposição de que todos retornem à ilha. Dos demais há ódio, loucura, mágoa, incredulidade. Sentimentos que nasceram, ironicamente, no momento em que Jack acatou o único conselho de Locke - pílula amarga, mal menor.. mal necessário que não salvou o médico de ser, de fato, devorado.

Não há dúvidas de que a quarta temporada de "Lost" foi tão brilhante e excepcional quanto sombria e nebulosa. Pelo relato de Locke no futuro, a ilha não foi defendida; e de acordo com o roteiro prescrito por Jack em suas escolhas, não houve resgate algum.

Ilustrando o panorama que se descortina para esta quinta temporada, Sun prestes a firmar um obscuro acordo com Charles Widmore, Hurley alucinado sendo conduzido por Sayid a um local ignorado, Kate às voltas com pesadelos envolvendo a verdadeira mãe de seu filho e Jack segurando a mão estendida por Ben.

Eis aí os elementos que, desde já, prometem uma história não apenas espetacular; e que, se tudo nos sugere que os seis hão de voltar à ilha, não nos dá muitas pistas para que, após 17 episódios, os tenhamos novamente prontos para encarar o divisor de águas de suas vidas. E para nós, privilegiados espectadores, a certeza de uma avassaladora mudança de dinâmica: neste quinto ano, podem apostar que o presente e o centro das ações acontecerá fora da ilha; e nos flashbacks, teremos a história trágica que motivou Locke a fazer seu apelo desesperado longe do local que entendia como seu verdadeiro lar.





Estejam certos: à nossa frente está uma quinta temporada pesada, forte e possivelmente ainda mais brilhante do que as anteriores. De braços dados com Locke e sob as bênçãos de Christian, é chegada a hora de Jack afastar a mentira que contou para si próprio. Vem aí a fascinante história de como o grande herói de "Lost", enfim, começou a cumprir seu destino e enfim reconduziu os seus à verdadeira salvação.


* * *


Outros heróis, alguns vilões, a ilha que se move... E muito mais no podcast Lost in Lost da semana que vem. Namastê!

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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