sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

“Because You Left” e “The Lie” - A ilha doente de tempo

(Com SPOILERS! para quem não viu os dois primeiros episódios da quinta temporada)

“Por que o acampamento não sumiu?” (Sawyer)
“Porque ele nunca foi encontrado” (Faraday)
“Se um dia tiver o azar de cruzar com Benjamin Linus e ele lhe mandar fazer algo, faça o oposto” (Sayid)
“Se não aconteceu, não acontecerá!” (Daniel Faraday)
“Todos com que me importava explodiram no seu maldito cargueiro. Eu sei o que não posso mudar” (Sawyer)
“As regras não se aplicam a você. Você é especial, Desmond. Você é milagrosamente especial” (Faraday)
“Quer saber, cara? Eu vou lembrar deste momento. Algum dia vocês vão precisar de minha ajuda, e digo agora: não a terão” (Hurley)
“Vá para casa e encontre uma mala. Se tem alguma coisa nesta vida que queira, coloque nela, pois você nunca mais voltará” (Ben)
“Que tipo de pessoa você pensa que sou?” (Kate)
“O tipo que toma decisões difíceis quando necessário” (Sun)
“Todas essas coisas ruins estão acontecendo porque não deveríamos ter mentido”. (Hurley)

“Eu não quero passar o resto da minha vida mentindo” (Hurley)
“O tempo é como uma rua. Podemos nos mover para frente e para trás, mas não podemos nunca criar uma nova rua. Se tentarmos fazer algo diferente, iremos falhar todas as vezes. O que aconteceu, aconteceu”. (Daniel Faraday)

Faraday, Sawyer, Juliet, Miles

Lá fora ninguém ouviu nada. Aí, também não, garanto. Também, lá se vão quase oito meses desde que Benjamin Linus a fez se mover. Faz? Já não sei. Afinal de contas, tudo é relativo. Ou melhor, quase tudo, pois é absolutamente seguro dizer que só agora estamos sentindo de verdade os efeitos daquele bendito/maldito giro da roda.

Se Ben quisesse, poderia repetir, desta vez com mais ênfase do que nunca, a afirmação de que as regras mudaram. E de uma forma avassaladoramente real, pois não foi para um só grupo da ilha. Muito menos ficou restrita a todos eles, ou tornou-se exclusiva para nós. Clarões e ruídos ensurdecedores anunciam que uma lei foi subvertida de forma violenta. Uma norma que, uma vez quebrada, faz confundir os ondes com os quandos, os sonhos com as recordações, nos ensina um novo passado, ao mesmo tempo que ainda consegue manter-se digna no seu único alicerce: o da imutabilidade. Você pode olhar mas não tocar? Nada disso: você olha, toca, mas ainda assim tudo permanece intacto. É quase um ataque de flechas incandescentes às razões de todos nós, personagens e espectadores, aparentemente tão distantes uns dos outros, mas na verdade unicamente comprometidos com tudo aquilo.

Hurley, Faraday, Charlotte

É curioso pensar os motivos que levaram “Because You Left” e “The Lie” a terem se unido em uma mesma noite. Na verdade, os dois episódios, em seus cenários de paranóia, de ataques grupais, de quase decepamentos, de narizes sangrando e desesperos explícitos e controlados, têm em comum o fato de se valer de dramas particulares e coletivos para mostrar algo infinitamente mais grave e grandioso, que paira sobre as trágicas situações que desfilam diante de nós. Uma realidade que, mesmo comentada no passado e jamais contestada, só agora começamos a entender o que de fato significa: a de que a ilha nunca foi um cenário, mas sim o personagem principal de “Lost”.

Os dois primeiros episódios desta quinta temporada nos mostraram que é este personagem que experimenta a verdadeira doença. Os “saltos no disco” que ameaçam os personagens com a possibilidade de demência e morte são nada mais do que efeitos colaterais do caos que assola um organismo maior. E, hoje, é a ilha que busca suas constantes - seis daquelas pessoas que também foram drasticamente afetadas ao serem deslocadas para longe dali, levadas a viver uma realidade não tão diferente das de Locke, Sawyer, Juliet e companhia. Afinal, de certa forma, passado e presente também se fundem nas mentes e corações de Hurley, Sun, Sayid, Kate, Jack e Desmond; e, para eles, a chance de voltar é a de tentar separar as duas coisas, coladas por uma coleção de mentiras, contadas para os outros e para eles próprios.

Desmond, Locke, Jack

Chegou o tempo dos atos grandiosos. Dos sacrifícios extremos, de se retornar quando já achou a paz, de se admitir morrer e de se aceitar o fato de não mais voltar. Preparem-se para ver as grandes conspirações começando a se revelar, testemunhar a ilha mergulhando em suas origens e momentos críticos em seus delírios temporais e, finalmente, ver ciência e fé se aproximando até se unirem, qual laboratório e igreja numa mesma construção - sutil sugestão dos instantes finais de “The Lie” - a fim de tentar restaurar a ordem, de poder restabelecer a lei.

Pedindo licença a Chang e Hawking, repito: que Deus nos ajude em meio a todo esse tumulto; e que deste caos nasça, de fato, a melhor introdução para o capítulo final de nossa história.

* * *

Os momentos engraçados, as surpresas, os detalhes, as mentiras e verdades de “Because You Left” e “The Lie” e muito mais no podcast desta sexta-feira. Não deixem de ouvir!

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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