(Com SPOILERS! para quem ainda não viu o sexto episódio da quinta temporada)
“Que lugar é este?” (Jack)
“A Iniciativa Dharma o chamava de ‘O Poste’. É assim que acharam a ilha” (Eloise Hawking)
“Me escute, irmão, e escute com atenção: essas pessoas estão apenas nos usando” (Desmond)
“A ilha não terminou com você, Desmond” (Eloise Hawking)
“Você diz que a ilha não terminou comigo, mas eu terminei com a ilha” (Desmond)
“Isso é ridículo!” (Jack)
“Pare de pensar no que é ridículo e pense se aquilo no que você acredita dará certo. É por isso que se chama um salto de fé, Jack” (Eloise Hawking)
“Todos nos convencemos, mais cedo ou mais tarde, Jack” (Ben)
“Não estamos indo a Guam, estamos?” (Frank Lapidus)
“Jack, queria que você tivesse acreditado em mim” (John Locke)
“Sim, nós estamos de volta” (Jack)
Tudo (de) novo - e os parênteses são obrigatórios. Mais uma vez mostrando-se fiel aos sentidos diversos de sua história, em “316″ “Lost” brincou de déjà vu com a quase totalidade dos Oceanic Six, num jogo de contar a mesma história de forma diferente - ou seria contar uma história diferente numa mesma forma? Ambos.
Lá estão, novamente, Jack, Kate, Sayid, Sun e Hurley. Num mesmo avião. Desta vez conhecidos, porém ironicamente em lugares distantes. Novamente, num voo cujo destino anunciado não é o seu; só que, agora, pilotado pelo homem que deveria ter sido o condutor da primeira viagem. Seria mais uma correção do destino? Bom, a essa altura, quem é louco de (não) duvidar?
O jogo das semelhanças e diferenças não para por aí. Há alguém escoltado a bordo, mas não é Kate; Sun, desta vez, não foge de seu amor, mas tenta reencontrá-lo. Em Hurley, há semelhança na fuga da insanidade - mas se antes a loucura tinha os números como seu estopim, agora é a mentira que o atormenta. Mais e menos do mesmo, juntos. Porém, esses contrastes que se unem não podiam mesmo estar mais evidente noutro personagem senão em Jack Shephard.
Quando chegou à ilha pela primeira vez, de imediato Jack se fez líder não pelo seu espírito, mas sim por sua capacidade de exercer a medicina. Sua ciência era a cura, o socorro. Passados três anos, ironicamente, o homem de terno e que se reapresenta de olhos arregalados e confusos é guiado essencialmente pela fé. E há algo mais dúbio do que o exercício da fé, força misteriosa capaz de milagres mas que é baseada em algo intangível?
Ter fé é acreditar numa resposta que não se consegue dar a perguntas nebulosas que exigem sérias explicações à luz da razão. Por que todos devem voltar? Por que Locke, mesmo morto, deve retornar? E por que ele precisa ter algo que pertença a Christian? Para Jack aceitar a fé como explicação - ainda que momentânea - para essas perguntas em seus atos é porque o desespero e a esperança, primos e antagônicos, estão juntos diante dele. E exercê-la no teste maior de calçar os sapatos do homem que tantas vezes lhe desafiou em suas crenças é a prova fundamental de que Jack não mais tem seus dois pés no solo que o sustentou em boa parte da vida.
Novamente acompanhando um morto ao seu destino. Novamente alguém que, em vida, andava tão próximo e tão distante - alcoólatra e desnorteado como Christian, crente e desnorteado como Locke. Desta vez, ao menos Jack sabe que, de fato, não conduz o homem do caixão. Apoiado pela ciência do cálculo e pela fé no improvável, é na verdade conduzido por ele - ontem seu oposto, hoje o guia-mor de uma jornada que se iniciou no que se pode tomar como um salto mas que também podemos chamar do recomeço de sua odisséia.
* * *
O Poste, a agente, o homem dos pêsames, Ben ensanguentado, o voo 316 e o reencontro com Jin… Estes e outros assuntos no querido podcast Lost in Lost. Namastê!
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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