(Com SPOILERS! para quem não viu o episódio)
“Bem-vindo ao círculo de confiança” (Horace Goodspeed)
“Aonde está o corpo dele?” (Miles)
“Em um lugar aonde você nunca poderá ir” (Mãe)
“Você pode falar com os mortos. Fique tranquilo, pois seu segredo está a salvo. E quer saber por quê? Porque posso falar com os mortos também” (Hurley)
“Esse cara é um babaca” (Hurley)
“Esse babaca é meu pai” (Miles)
“Por que diabos você sabia o número?” (Miles)
“Porque eles estão construindo uma escotilha” (Hurley)
“Que escotilha?” (Miles)
“A que derrubou nosso avião” (Hurley)
“Se você queria que seu filho soubesse que o amava, deveria ter dito quando ele ainda estava vivo” (Miles)
“Preciso de você, Miles” (Pierre Chang)
“Precisa?” (Miles)
“Lost” nasceu como uma série de duplos sentidos - a começar pelo seu nome. Como os produtores já afirmaram inúmeras vezes, perdidos, todos ali já estavam, antes de cargueiros e aviões. E é ainda pensando nestas formas diversas de se ver a série que podemos entender que, além dos mistérios que saltam aos olhos e fascinam pelo fantástico, há aqueles com os quais estamos acostumados desde sempre, mesmo sem conhecer Jack, Locke e companhia. Enigmas que caminham, e que fazem questão de serem assim porque, ficção ou não, a vida é bem mais simples e segura quando vivida sob fantasias e máscaras.
Assim como nos revela grandes questões da ilha, “Lost” também nos permite frequentemente ver as pessoas por trás destas máscaras, das maquiagens, dos disfarces. Há o paraplégico que ignora a cadeira de rodas que um dia foi sua, e se apresenta como o caçador pronto a prover os seus; o homem de bom coração por trás do golpista; o torturador mais dócil, a bailarina de vidro que se parte quando necessário, mostrando que também sabe ser pedra. E há também Miles Straume - um homem que, até a noite da última quarta, nos era apenas insensível, sarcástico e materialista… mesmo intuindo que havia mais ali. E havia.
De início, eu embarquei em “Lost” pelos mistérios que a série prometia; mas ao mesmo tempo nunca me incomodei com a pausa na solução dos enigmas considerados “maiores” por muitos em nome da descoberta de quem aquelas pessoas ali são de verdade. E “Some Like It Hoth” se dedicou a desconstruir Miles, quebrando cascas, removendo crostas e mostrando um homem de pouca conexão com o que se pode tocar e com uma ligação peculiar com o que muitos consideram irreal.
Outra coisa que me agrada muito em “Lost” é que, ao falar das pessoas e daquilo que elas escondem, a história se vale de ironias pertinentes demais. Vejamos Miles, pessoa com o dom único de ouvir os mortos, e que agora lida com o trauma maior de não conseguir se conectar com aquele que verdadeiramente lhe pareceu morto a vida inteira. Tão perto e tão longe - como sua mãe falou, num lugar aonde ele nunca poderá ir. E quem está falando só da ilha?
Sorte dele que, naquele local, dentre todos os caubóis que têm problemas com seus pais, quis o destino que um dos poucos que recusam a máscara fosse aquele a lhe falar de abandono, perdão e reconciliação: Hurley, armado com metáforas mais fortes que sua ingenuidade possa insinuar, que conseguiu calar em Miles o dogma repetido por ele de que nada pode ser mudado naquele passado para lembrá-lo de que, independentemente do que a ilha marca, o tempo deles sempre é o futuro.
E assim, novamente, “Lost” nos conta uma nova fábula sobre uma segunda chance. E saboreá-la pensando que o destino sempre arruma um jeito de corrigir o que está errado faz da história algo mais bonito e especial. Agora, surgiu a vez de Miles Straume. Ontem, talvez, fora a de Benjamin Linus. Um dia, tivemos a de John Locke, a de James Ford, e não haverá despedida sem que Jack Shephard também tenha a sua oportunidade. Assim foi “Some Like It Hoth”: mais um episódio que, como num sussurro, parece nos soprar uma verdade: aqueles que não enxergam os templos e monstros em cada uma daquelas pessoas, na verdade estão entendendo muito pouco. Ou, como prefiro acreditar, não estão percebendo quase nada.
***
Mais Miles, Mais Hurley, Pierre Chang, Star Wars, Roger Linus, Bram e os homens do furgão… Tudo para o podcast Lost in Lost que ainda virá. Namastê!
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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