(Com SPOILERS! para quem não viu o 11º episódio da quinta temporada)
“Kate, você acabou de me contar que você e seus amigos inventaram a história para o mundo todo sobre o que aconteceu naquela ilha e não me diz a verdade sobre isso? Por que você está mentindo sobre ele?”(Cassidy)
“Porque eu preciso”. (Kate)
“Se você não voltar comigo, Jack, o garoto irá morrer” (Sawyer)
“Então, ele morre” (Jack)
“Quando estivemos aqui antes, passei todo o meu tempo tentando consertar as coisas; mas você já parou pra pensar que talvez a ilha quisesse consertar as coisas, e que talvez eu estivesse me metendo no caminho dela?” (Jack)
“Claire se foi, e ele precisava de mim” (Kate)
“Você precisava dele. Sawyer partiu seu coração” (Cassidy)
“Aquela criança é Ben” (Jack)
“Não é Ben ainda. É só uma criança” (Juliet)
“Eu voltei porque estava tentando salvar vocês” (Jack)
“Não precisávamos de salvação! Ficamos bem por três anos. Você voltou por você” (Juliet)
“Ele é seu neto; e sua filha, Claire, está viva” (Kate)
“Aonde você vai?” (Carole Littleton)
“Olá, Ben. Bem-vindo de volta ao mundo dos vivos” (Locke)
“Eu vou voltar para achar sua filha” (Kate)
“Se eu o levar, ele jamais será o mesmo novamente (…) O que quero dizer é que ele esquecerá o que aconteceu, e a inocência dele acabará. Ele sempre será um de nós” (Richard Alpert)
O novo episódio desta quinta temporada de “Lost” nos trouxe duas histórias dividindo o foco central - ambas protagonizadas pela mesma personagem. Mais uma vez, tivemos Kate Austen radiografada em situações distintas mas que guardam semelhanças entre si. Histórias que nos mostram uma pessoa em transição entre vontade própria e doação, entre egoísmo e altruísmo; e que também nos reforçam que, na ilha, passado e presente, para aqueles que voltaram, não estão sempre separados.
Já disse isso várias vezes, mas repito por necessidade e gosto: a maior beleza de “Lost” está em ser uma série sobre pessoas. E quando o forte (e espetacular) apelo do mistério se ausenta, essa verdade reluz ainda mais. Excepcional, por exemplo, é perceber que, ao contrário de Jack, Kate de fato só foi para a ilha quando encontrou um motivo para tal - que, por sinal, não é Sawyer, da mesma forma que Jack não era exatamente um motivo para que ela saísse de lá. Na verdade, como o golpista sempre observou, Kate não tinha motivos para partir - talvez o único grande impulso motivador fosse justamente ter ouvido isso de Sawyer, já que Kate praticamente fugia por reação. E após sua última escapada, a da ilha, a que realmente não tinha sentido algum, é que ela percebeu que não queria mais estar só.
Não concordo com Cassidy quando ela insinua que Sawyer teria sido o único motivo para que Kate visse Aaron como filho e objeto de seu amor. A carga de Kate era muito mais pesada do que isso - e se a ex-amada de Sawyer naturalmente não sabia disso, nós temos tudo para entender que a carência dela era bem mais complexa. Um vazio preenchido por um sentimento que, mais do que fazer doer a consciência, se impôs como a razão real para querer voltar à ilha em sua forma mais bela. E assim, espantosamente, Kate, que inicialmente não queria voltar, o fez com mais consciência do que Jack, com mais segurança do que Sun. Kate sabe quem salvar.
Longe do mundo exterior, diante de Kate e dos demais, vimos também o sociopata do futuro convertido em um menino frágil, prestes a morrer. De novo: o que surgiu como o pesadelo de uma suposta e catastrófica chance de mudar o futuro - pensamento que Kate chegou a expor e que é essencialmente individualista -, tornou-se prática através dela e de Sawyer como altruísmo. Vejam que espetacular: como nós, espectadores, sabemos que o amanhã não pode ser mudado, cabe aos roteiristas nos surpreenderem com as reações e pensamentos dos personagens sobre suas respectivas participações na construção deste futuro já escrito. Jack ouviu Miles. Kate também. Jack recusou-se a salvar Ben por acreditar que ele invariavelmente escaparia da morte e, principalmente, sem que ele colaborasse com isso; só que, quase que paradoxalmente, foi o “não” de Jack que causou a iniciativa de Kate em ajudar o menino. E o que é mais estranho: a omissão de Jack em ajudar um garoto à beira da morte ou o amparo de Juliet, Kate e Sawyer em criar um monstro?
É assim que “Lost” escolheu desfilar a sua complexidade neste quinto ano até aqui: no paradoxo em que ações voluntariamente escolhidas demonstram ser, ao mesmo tempo, rigorosos cumprimentos do que se chama destino. Antes, a questão era tentar vislumbrar os fins para se concordar ou não com os meios; agora, com os eventos já consolidados, são os meios que se sobrepõem. E no caso de Ben, não adianta: todos do passado tiveram sua participação no homem em que ele se tornou. O que muda é a escolha da natureza dessa colaboração.
Para a ilha, o que aconteceu, aconteceu; até certo ponto, a história não pode mesmo ser mudada. No entanto, em termos individuais, os sobreviventes não são pessoas que se tornaram, mas que estão se tornando. Ao mesmo tempo, coexistem uma grande história já escrita e outras, individuais, que ainda estão sendo escritas. E assim como Sawyer e Juliet, sabe Kate Austen que é melhor acreditar em que a ilha esteja permitindo que se escolha a forma com que cada um faça o que deve fazer. Desta forma, vence mais e melhor quem age do que quem se esconde; e feliz de Kate Austen, que preferiu abafar a culpa e o medo com o amor.
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Goodspeed, Alpert, o monstro de fumaça, Ben, Roger, Miles e Hurley… Tenho muito mais assuntos para comentar no podcast Lost in Lost, que deve chegar no fim de semana. Namastê!
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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