sexta-feira, 1 de maio de 2009

“The Variable” - Causa e consequência

(Com SPOILERS! para quem não viu o 14º episódio da quinta temporada)

“Tenho más notícias, Jack: vocês não pertencem a esse lugar. Ela estava errada” (Daniel Faraday)
“Destino significa que, se alguém tem um dom especial, precisa ser aprimorado” (Eloise Hawking)
“Boa sorte, Daniel. E espero que você saiba que digo isso de verdade” (Eloise Hawking)
“E se eu te disser que eles não estão mortos? E se eu te disser que aquele avião é uma cara e elaborada farsa?” (Charles Widmore)
“Como você saberia disso?” (Faraday)
“Porque eu o pus lá” (Charles Widmore)
“Nós não pertencemos a este lugar” (Jack)
“Eu pertencia muito bem a este lugar até vocês voltarem, doutor” (Sawyer)
“Hora de ir” (Sawyer)
“Pela primeira vez em muito tempo, eu não sei o que acontecerá depois” (Eloise Hawking)
“Eu prometi, Penny. Eu prometi a você que nunca mais te deixaria novamente” (Desmond)
“Eu posso fazer tempo” (Faraday)
“Eloise… você sabia. Você sempre soube. Você sabia que isso aconteceria, e me mandou mesmo assim” (Faraday)
“Quem é você?” (Eloise Hawking)
“Eu sou seu filho” (Faraday)

Faraday e Eloise Hawking

Com as pedras de gamão em suas mãos, na beira da praia, Locke já nos sugeria na primeira temporada que a saga que tínhamos pela frente seria composta por diversos duelos. E o espetacular centésimo episódio de “Lost” pôs novamente em evidência uma destas famosas e imprevisíveis disputas da série: a do destino versus livre arbítrio, luta que teve na história de Daniel Faraday um de seus assaltos mais intensos.

E o que não é a trajetória de Faraday senão uma boa amostra desse combate? Desde cedo, ele viu sua liberdade de escolha preterida em nome de um talento usado imponentemente por sua mãe como determinante de seu destino. Na verdade, Eloise Hawking nos relembra um comportamento comum a quase todos os pais de “Lost”, que insistem em apontar aos filhos os caminhos que querem que eles sigam ou mesmo que tipo de pessoas eles são. Só que, diferentemente de Jack, Ben, Sun e outros filhos inconformados que pareciam repetir aos pais o “não me diga o que não posso fazer”, Daniel Faraday escolheu o caminho da submissão por boa parte de sua vida.

Faraday e Charlotte

Em “The Variable”, a coleção de sentidos figurados que nos conduzem pela história da série voltou a ser reforçada. Durante muito tempo, o dogma de que nada poderia ser mudado nos fora somente entendido como uma lei fria, dura, instransigente. Nós só não sabíamos que esse determinismo fora absorvido por Faraday em níveis não só científicos como emocionais. Por isso, quando resolve abandonar o que repetira por tanto tempo, esquecendo as constantes para se focar nas variáveis, o físico aponta não apenas um caminho para prevenir incidentes e acidentes de proporções catastróficas: se quando adulto ele passou a entender por que sua mãe o conduzira para aquele destino - e digo isso antes da conclusão em seus instantes finais, mas aquela que o levou a indicar Desmond a procurar Eloise -, ao propôr a chance de uma nova história para Jack e companhia ele sobretudo desejava também um novo caminho para si. Ao ir procurar Ellie junto aos Hostis, Faraday estava em busca da prometida cura que a ilha poderia lhe dar: uma vida sem negações tão intensas e implacáveis; uma segunda chance que enfim acontecesse antes mesmo da primeira.

A esperança de sua apaixonada teoria estar certa e vingar, no entanto, não durou muito - ao menos não que ele pudesse evidenciar, sobretudo vivenciar. O tiro de sua mãe foi recebido como a certeza de uma condenação ocorrida antes mesmo da bala. Uma sentença realizada à recusa de uma nova chance, e proferida muito tempo antes por sua mãe, juíza e executora.

Faraday morre

Ali, no lugar em que cruelmente pertencia, Faraday não só se despedia da vida como perdia sua última batalha para o destino, esse misto indissociável de causa e consequência. Morre o físico, agoniza o livre arbítrio no passado - agora, aparentemente presente apenas nas equações feitas por um homem que, ao tentar reeditar a história de todos, só queria ter o direito de enfim escrever a sua.

***

Os sobreviventes. Desmond. Widmore, Hawking. Cisne, Orquídea e mais aspectos da batalha entre destino e livre arbítrio. Tudo no podcast Lost in Lost, claro! E vem aí na semana que vem. Namastê!

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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