quinta-feira, 15 de abril de 2010

“Everybody Loves Hugo” – A Boa Trilha do Abençoado

(Com SPOILERS! para quem não viu o episódio)

“Os mortos são mais confiáveis do que os vivos” (Hurley)
“Eu estou protegendo a gente” (Hurley)
“Não tenho que te provar nada, Richard. Ou você vem comigo, ou podemos continuar explodindo coisas” (Hurley)
“Por que você não está com medo?” (Homem de Preto)
“Qual o sentido em se estar com medo?” (Desmond)

“Hurley, você pediu para eu confiar em você. Este sou eu confiando em você” (Jack)
“Acredite em mim, Jack: eu sei o que estou fazendo” (Hurley)

Quer se ame, quer se odeie a sexta temporada de “Lost”, difícil encontrar alguém que discorde do título do episódio da vez. Terminada a série, ao se recordar de Hurley, é seguro dizer que a maior parte dos fãs colocará o carinho a bordo das lembranças em lugar de honra. Produtores e roteiristas, benditos responsáveis por essa associação, sabem disso – não é à toa que gostam de pôr perguntas, anseios e dúvidas próprios dos espectadores através dos atos e das palavras dele, quase sempre tendo o humor como canal e marca. Porém, se antes Hurley nos era tão somente o respiro cômico de “Lost”, há tempos deixou de ser só isso. Honrando o convite que a série nos faz a todo tempo, conforme a trama foi evoluindo, fomos largando o óbvio e simples para enxergar melhor Hugo Reyes através de suas demais camadas – algo facilitado pela própria evolução sua e de seu papel na história.

Se antes o amadurecimento de Hurley em “Lost” já era uma realidade clara, após este episódio se torna algo inevitável. Ou ainda: de fato irreversível. Se no começo da história Hurley nos parecia um covarde com síndrome de Peter Pan e que não podia sequer ver sangue, hoje é alguém que cada vez mais entende a bênção de seu dom e, melhor ainda, o encara como um novo alicerce para se valer de coragem e responsabilidade e realizar atos como, por exemplo, encarar a personificação do mal na ilha. Se antes Hurley era ingênuo ao extremo, hoje não é mais, embora conserve sua inocência de forma impecável. Muitas vezes, o inocente é para nós o bobo, o trouxa, o enganável; em “Lost”, com Hurley, não: sua inocência fundamenta a nobreza de seu pensar e agir – e é assim que ele se construiu líder.

Em muitas passagens, o despudor em reconhecer sua ignorância e a falta de orgulho fez com que Hurley revelasse a sabedoria que vive nesta inocência. Sendo muito prático, citando um exemplo, no enfrentamento com o Homem de Preto, tudo o que Hurley encontra como apoio é o fato de exigir que não haja violência vinda de nenhum dos lados. Não há um discurso lapidado, um argumento persuasivo à la James Ford, intenções armadas e astutas como as que Benjamin Linus sabe forjar. Há apenas a intenção de que todos estejam seguros como a parte aparente de um princípio muito mais profundo: a de que não há bem cristalino que surja do mal que se evoque nem do sangue que se derrame. O caminho escolhido por Hurley não é o único mas, diante de um cenário marcado por conflitos, é extremamente nobre.

Hurley resistiu e resiste bravamente à quase obrigação imposta pela Ilha de se defender através das armas. Isso não está em seu instinto. A conquista de respeito conseguida por ele junto a seus companheiros e a nós mesmos em toda sua trajetória revela um homem que já descobriu que sempre trouxe consigo a orientação adequada para fazer as coisas darem certo: ser bom. E, ainda melhor: no caso de Hurley, isso simplesmente significa ser quem ele de fato é. Liderança improvável? À luz do impulso, do instinto, totalmente; mas em termos de sentimento, claro que não.

Por isso, se para tudo há um propósito, não me estranha que tenha sido ele o escolhido para estabelecer a comunicação com os mortos – quem dali daria ouvidos a alguém que matou seu amor? Como disse, o dom que antes Hurley considerava maldição já confirmou-se bênção, como o próprio Jacob lhe dissera no táxi. E há nisso uma relação mútua: esse talento especial ajudou Hurley a ser mais respeitado mas, ainda mais importante, são Hurley e sua bondade que dão credibilidade ao extraordinário.

Tinha mesmo que ser Hurley. Certamente Jacob está satisfeito com sua escolha; e não será nada espantoso se ele repeti-la.

***

Michael, Libby, Desmond, o atropelamento, Ben, os flash-sideways… O podcast Lost in Lost está a caminho!

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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