sexta-feira, 9 de abril de 2010

“Happily Ever After – A Luz do Ordinário Maior

(Com SPOILERS! para quem não viu o episódio)

“A ilha ainda não terminou com você” (Charles Widmore)
“Sempre há uma escolha, irmão” (Desmond)
“E se isso tudo não fosse para ser a nossa vida?” (Dan Widmore)
“Eu não quero explodir uma bomba atômica, sr. Hume. Acho que já a explodi” (Dan Widmore)

“O que importa é o que sentimos” (Charlie)
“O que diabos você sabe sobre sacrifício?” (Desmond)

Quem é o grande herói de “Lost”? Na frieza do raciocínio, é injusto apontar um apenas. Nossa história e seus caminhos nos apresentaram diversos, distintos, envoltos em diferentes níveis de dedicação, devoção, sacrifício, vocação; no entanto, preciso admitir que, após assistir a cada episódio centrado em Desmond David Hume, sinto que a resposta se torna especialmente legítima quando ligada a ele.

O heroísmo de Desmond se destaca. Ele não carrega o ímpeto do comando (e do comandar) que vemos em Jack Shephard nem o esoterismo exótico de John Locke, e muito menos a sensatez abrupta e não-lapidada de James Sawyer Ford. Irei resistir ao máximo chamar Desmond de “herói por acaso”, embora não descarte o conceito que define essa expressão batida, mesmo falando de uma série em que o destino dá as caras todo o tempo. Desmond merece ser reconhecido pelo aspecto verdadeiramente especial a respeito de seu heroísmo: das odisseias que compõem “Lost”, é dele a mais nobre.

Uma tempestade de argumentos me acerta para defender essa certeza; um dos mais fortes é o simples fato de que, quando o centro dos fatos e atenções se encontra em Desmond, as três maiores forças por trás da série – os roteiristas principais e produtores executivos Damon Lindelof e Carlton Cuse e o diretor Jack Bender – parecem fazer questão de se unir. Claro que daí surge a certeza de que os episódios de Desmond são sim solenes demais, às vezes covardemente expressivos em comparação com os de tantos outros personagens. Sim, já ouvimos textualmente em “Lost” a afirmativa que Desmond é especial; mas nem precisava.

Neste novo e espetacular capítulo da reta final da saga, roteiro e direção confiam a Desmond a responsabilidade de justificar a presença dos flash-sideways na trama diante de uma audiência parcialmente aflita por um sentido às realidades paralelas dos personagens. Parcial e injustamente aflita, compro a briga: a desconfiança sobre a pertinência dos flash-sideways é um comportamento inadequado frente ao histórico da qualidade da trama de “Lost” mas, ainda pior, é errada porque subestima Desmond – e olha que, além da posse de todo nosso conhecimento sobre ele, desde os primeiros minutos da temporada todos já tínhamos intuído que a resposta para a nova história dos losties passava por ele.

Agora, já com um sinal sobre a importância e serventia dos flash-sideways, há quem questione e/ou ironize o caminho pelo qual essa conexão nos foi mostrada. E aconteceu de uma simplicidade admirável: pela grandiosa história de amor de Desmond e Penny. Como disse no começo, heróis não podem ser entendidos da mesma forma; e tentando novamente distingui-los, há os que almejam realizações virtuosas, hercúleas, históricas, se distanciando da massa ordinária, e os que se notabilizam justamente por encontrarem sua bravura, sua força, sua essência pelo fato de serem humanos demais, de se misturarem conosco de forma simples, espontânea, verdadeira. Neste segundo grupo, temos Charlie, Faraday…e Desmond. E não é curioso saber que o maior e mais claro dos caminhos, a maior das respostas, possam vir justamente deles?

Para ser ainda mais sincero comigo e com vocês, termino trazendo minha justificativa favorita para ver Desmond se clarear dentre os iluminados: ele consegue nos ser mais especial porque seus êxitos e fracassos nos são mais sentidos. Desmond vive as vitórias que queremos como nossas, experimenta os fracassos que tememos; e desta forma seus achados e desencontros nos falam mais alto. Numa série sobre pessoas, é isso que deve fazer sentido e diferença; numa série sobre sentimentos, não poderíamos ter constante mais bela.

***

Widmore, Eloise, Dan, George, Charlie, Penny. E Desmond, lógico. Presenças confirmadas no próximo podcast Lost in Lost. Namastê!

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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