sexta-feira, 7 de maio de 2010

“The Candidate” – Dois (novos) Jacks e um destino

“Eu acho que posso curá-lo” (Jack Shephard)
“Não, obrigado” (Locke)
“Você pode não acreditar, mas estou fazendo isso para o seu próprio bem” (Charles Widmore)
“Acredite: você não iria querer estar naquele submarino” (Homem de Preto)
“O que o faz pensar que esquecer é tão fãcil?” (Locke)
“Não é. E de fato, eu mesmo não sei como fazer. E é por isso que eu esperava que você pudesse ir primeiro” (Jack)
“Eu nunca vou te deixar” (Jin)
“Aonde está indo?” (Claire)
“Terminar o que eu comecei” (Homem de Preto)

“Por que você está me dizendo tudo isso, Sayid?” (Jack)
“Porque terá que ser você, Jack” (Sayid)

Não há mais tempo nem ânimo para luto ou para meio termo. Como não podia ser diferente, em suas últimas horas “Lost” vive momentos de extremos, de urgência, através de situações que suscitam heroísmo, mergulham em desespero, clamam por decisões – às vezes, tudo ao mesmo tempo. Para quem não lembra, foi assim também que nossa jornada começou; e por circunstâncias diversas – iniciativa, impulso, lacuna não preenchida -, um passo pôs Jack Shephard à frente das ações. Em “The Candidate”, a história se repete.

Pausa para lembrar de Jack, no início da primeira temporada, incomodado, comentando que não pediu para ser líder. Pausa para rever a obsessão de Jack em consertar o que lhe parece errado. Curioso como essas duas características são relativamente contraditórias, já que querer restaurar é não se conformar com o que está vigente; e para sair do inconformismo para a ação é preciso ter alguns ingredientes em comum com os que formam o ato e a vocação de liderar.

Pausa para lembrar de Hurley, no fim da primeira temporada, dizendo a Jack que sua psicologia com os pacientes devia ser um traste. Isso, sim, tem a ver com o incômodo em não querer liderar o grupo. Dá para sugerir um porquê: líderes precisam ter uma certa dose de fé para poder conseguir extrair daqueles que por eles são guiados força e vontade para não se entregarem. Assim sendo, desse jeito, por muito tempo, Jack nos foi um líder incompleto. Pois bem: desse mal ele não sofre mais.

“The Candidate” nos mostra dois renascimentos de um mesmo comandante em tempos e circunstâncias diferentes, movido de forma distinta por estímulos similares. Para explicar, estou falando de fé, e não de fé cega, já que a crença de Jack em algo não se basta, mas o incentiva a tentar decifrá-la. No 2004 paralelo, Jack efetivamente nota que os passageiros do voo 815 não se encontraram casualmente, e intui seu potencial de ativar essa ocorrência, deixando de lado o velho destempero e ansiedade característicos do doutor Shephard; e em 2007, no olho de um furacão, como na tragédia aérea que experimentou, mas com uma notável separação do que era aquele homem de paletó e um corte nas costas a ser costurado: a decisão de liderar a si mesmo por conta de uma grandiosa busca pessoal faz de Jack um homem mais tolerante, menos controlador, menos “façam o que eu digo”, mais “venham que eu os levo”. Respeitando as escolhas dos demais, Jack ocupa-se de, antes de qualquer coisa, não deixar que se desvie de si e de seu objetivo.

Os Jack Shephards destes dois momentos são mais serenos, mais maduros emocionalmente, mas enquanto o de 2004 tem o tempo a seu favor na solução de um mistério que torna-se aos poucos mais e mais evidente, o de 2007 não possui o luxo de esperar saber para só então agir. Mesmo com tamanhas diferenças de cenários, no fim do episódio lá estão os os dois se encontrando em uma nova semelhança, ao acabar se frustrando – ainda que momentaneamente – em suas expectativas não atendidas e nas consequências de suas intenções, ainda que atrapalhadas por agentes externos.

E o que esperar agora? Não consigo ver outro caminho para os dois Jacks senão o da divisão de seus fardos, missões e intenções com outro grande herói de “Lost”: Desmond. De seus encontros, creio, nascerá não só a esperança para superarem um contexto sombrio em que viver juntos parece significar morrer acompanhados como surgirá também a grande descoberta que nos dará o sentido entre as duas realidades. E quem sentir sua fé pessoal abalada, na dúvida de que isso aconteça, que lembre as últimas palavras de Sayid para saber que Jacob não só assiste, sequer apenas espera.

***

Sayid, Jin, Sun e a grande tragédia submarina, John Locke, Claire, o Homem de Preto, Sawyer… e, novamente, Jack. A nova edição do Podcast Lost in Lost trará todos eles. Aguardem!

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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