(Com SPOILERS! para quem não viu o episódio)
“Locke fez isso a eles. Temos que matá-lo” (Kate)
“Eu sei” (Jack)
“Aqui foi o lugar em que me contaram que eu poderia invocar o Monstro – isso antes de eu perceber que era o Monstro me invocando” (Ben)
“Estamos muito próximos do fim, Hugo”(Jacob)
“Talvez isso tudo esteja acontecendo por um motivo” (Locke)
“Eu aceito. É para isso que estou aqui. É isso o que eu devo fazer” (Jack)
A maioria dos atos de heroísmo têm em comum o fato de terem acontecido graças a um instante único que proporcionou a tal chance de se fazer algo a respeito – uma reação que reúne susto, senso de solidaridade e sacrifício, como por exemplo na clássica história da mulher que conseguiu erguer um carro para salvar seu filho, cuja perna ficou presa sob as rodas do veículo. Na reta final da série, apontam dois homens dispostos a se doarem e que, se não têm exatamente um susto a resolver, trazem consigo o entendimento da responsabilidade de suas missões.
Jack e Desmond. Operando basicamente em realidades paralelas, ambos esquecem de si mesmos em prol de suas tarefas, incumbências nobres e belas. Nada melhor para os que amam encerramentos de ciclos e nada mais justo aos dois personagens. Digo isso porque, no começo de nossa relação com eles, lá estavam os dois nos sendo apresentados através de atos heróicos, num cenário de caos pós-acidente e na ameaça desconhecida porém anunciada de 108 em 108 minutos. Missões distintas porém grandiosas, e com algo mais em comum: terem surgido de realidades impostas aos dois. Tinha que ser eles, agindo e acreditando. Ponto para o destino.
O cenário mudou. Neste momento, a única imposição para Jack e Desmond é a da experiência por trás destas missões. Na realidade original, essa bagagem foi de fato carregada por Jack. Como todos os seus companheiros de Ilha, Jack Shephard viveu uma jornada pesada, de emoções extremas, que particularmente o conduziram da negação da ciência a aceitação da fé. Mas como ousar dizer que não há razão na crença de Shephard? Ele a ergueu através de evidências incontestáveis, de diversos fundamentos cobertos em vida e em morte. Se os argumentos dele sempre pertenceram aos fatos, lá estão muitos; e assim, sua escolha não é só a concordância com um caminho que, de várias formas, lhe fora repetidamente apontado, mas também um tributo aos que viveram e morreram em sua incrível história. Dizer sim a Jacob, para Jack, não é só reconhecer o valor do trabalho a se realizar: é prestar reverência ao seu antecessor, aos que ainda se encontram ao seu lado e também a Sun, Jin, Sayid, Juliet, Charlie, Michael, Boone, Eko… e, sobretudo, a John Locke.
Enquanto isso, Desmond assume para si outra missão que, ao gosto de sua existência extraordinária, parece calcada em duas vidas. Nele, vemos a confiança do que fazer e de que irá acertar; e se na realidade original o amor de Penelope Widmore era o objetivo, na paralela Penny é a mola propulsora a impulsioná-lo a seguir seu plano.
Respeitando a magnífica pluralidade de “Lost”, o que temos nas missões que eles escolheram para si mesmos – ponto para o livre arbítrio -, é a grande e gritante verdade que reside em suas respectivas essências: a de que aquelas pessoas que se cruzaram e que fizeram parte de nossas vidas por seis inesquecíveis anos precisam umas das outras para se encontrarem de verdade, qualquer que seja a realidade em que estejam.
Jack e Desmond, hoje, são dedicação, doação, força, mente e coração a serviço do viver junto ou morrer sozinho – uma máxima que por muito tempo nos foi tão literal mas que, nestes últimos minutos de nossa saga, promete se mostrar por completo em seu significado – revelação que, a exemplo de tantas outras, se vestirá de ficção para nos encantar e fazer perceber novamente que só conseguem experimentar “Lost” de verdade aqueles que se deixam encontrar dentro de sua história.
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Ben, Widmore, Sawyer, Hurley, o Farol, o Monstro… Muito a se dizer no podcast Lost in Lost #99, que chega no sábado domingo! Até!
Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro
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