quinta-feira, 1 de março de 2007

"TRICIA TANAKA IS DEAD" - LIBERDADE E FÉ

(Cheio de SPOILERS para quem não viu o décimo episódio da terceira temporada)



"Neste mundo, filho, você tem que fazer sua própria sorte" (David Reyes)
"Um pouco de diversão seria bom para todos" (Hurley)
"Não há maldição alguma!" (Hurley)
"Vitória ou morte" (Charlie)
"Hurleeeeeeeeeeeeey!" (Jin)
"Lave minha mágoa, lave minha dor no caminho para Shambala" ("Shambala", Three Dog Night)





Um episódio libertador em todos os sentidos - e muito, muito divertido, como um episódio de Hurley deve ser. Se "Flashes Before Your Eyes" foi marcante por conta de sua narrativa diferente e que plantou várias (e ótimas) dúvidas nas cabeças dos fãs, "Tricia Tanaka is Dead" deu a "Lost" uma alegria de intensidade jamais vista na série.

O engraçado é que Hurley é, de fato, o único personagem associado a uma maldição que, se é questionável a respeito de seu real valor, sempre fora certeza dentro dele. Talvez por conta de algo aparentemente bobo, porém de simbolismo bem forte para Hurley: o carro que ele e o pai David nunca consertaram. E a ausência do homem que era o motivador de sua fé por 17 anos fez Hurley trancar o carro quebrado em sua garagem e esquecer sua fé em algum lugar de seu passado distante.





A tal maldição dos números sempre se mostrou a Hurley de formas tão trágicas quanto ridículas - para citar apenas o exemplo mais recente em nossas memórias, o que dizer de um meteorito caindo em uma lanchonete? -; e foram estes eventos improváveis que levaram o gorducho a acreditar em sua praga particular.

Nós sabemos que a ilha se comunica com seus habitantes de formas muito sutis; e Vincent foi o "mestre de cerimônias" para a chance de Hurley se livrar de seu problema e de outro tão esquisito quanto o seu: a profecia de que nada poderia evitar a morte de Charlie. Por isso, nada espantoso que a nova chance de o gorducho recuperar sua fé fosse a bordo de um veículo tão acabado quanto o Camaro de seu pai.





O jeito com que Hurley foi se libertando de sua maldição ao longo do episódio foi simples, leve e bonita. Ele começa no desabafo com Libby, passa pela revelação de seu segredo a Charlie, chega ao encontro com a Kombi, vence o desânimo dos sobreviventes e as expectativas contrárias de Jin e Sawyer de que ainda houvesse conserto para ele.

Aliás, talvez a impossibilidade tenha sido uma arma importante para Hurley: se o improvável durante tanto tempo se manifestou de forma negativa por conta de uma suposta maldição, por que não poderia também se fazer ativo em um carro caindo aos pedaços voltando a funcionar quase que milagrosamente?




Vencer a maldição brincando com ela, encarando-a de frente, e sorrindo no fim. Incrível a resolução que Hurley encontrou para um problema tão nebuloso e pesado. Sensacional o jeito com que provou a si mesmo e mostrou a Charlie que acreditar é fundamental. Uma certeza, uma vitória devidamente celebrada na que para mim já é uma das cenas mais bonitas e marcantes da história da série: Hurley, Charlie, Jin, Sawyer e Vincent no carro ao som de "Shambala". Simplesmente felizes - e, naquele momento, certamente invencíveis. Qual verdadeiro fã da série não gostaria de estar naquela Kombi? Aliás, qual não estava?

Fé. Ela não explica tudo, mas sem dúvidas diz muito para quem vive naquela ilha. E provavelmente é a fé um dos grandes elementos para a definição do destino dos personagens, que tanto podem usá-la a seu favor quanto acreditar que nada pode ser mudado, confirmando cada uma das maldições pessoais que reinam por lá. Bom ver que Hurley e Charlie encontraram a forma certa para lidar com ela.



Será que Desmond, um dia, saberá consertar seu carro?



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A outra forma liberdade veio na levíssima, ágil e deliciosa narrativa do episódio, manifestada também no humor afiado e, desta vez, nada amargo de Sawyer. Aliás, bonito demais ver o personagem se desarmando ao aceitar o abraço de Hurley e indo também abraçar Jin.

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A fotografia de "Tricia Tanaka is Dead" é um espetáculo à parte. A tomada de Hurley pondo a flor no "túmulo" de Libby é primorosa.

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Se houvesse um "dream team" a ser escalado para decifrar a ilha, o meu provavelmente seria formado por Locke, Sayid e Rousseau. Eles e Kate compõem um grande time - e assim, "Enter 77" tem tudo para ser nada menos do que excelente.

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Amanhã, o podcast; sábado, a raspa do tacho. Há muito, muito mais a ser dito sobre "Tricia Tanaka Is Dead".

Fonte: Lost In Lost - Por Carlos Alexandre Monteiro

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